Hoje acordei me perguntando porque faz tanto tempo que não escrevo no blog. Foi então que eu percebi como o próximo capítulo da nossa história - a UTI - é tão difícil de ser descrito. Conseguir escrever o que os noventa dias de UTI representaram é quase impossível. Vou tentar!!!
Como escrevi anteriormente, sair da maternidade sem o filho nos braços é uma experiência horrível. Chegar em casa sem o bebê representa um vazio indescritível. Mas a vida não podia parar e nosso pequeno guerreiro precisava do nosso amor.
Decidimos então criar uma rotina pra garantir que tudo fosse feito da melhor maneira possível. Todos os dias pela manhã, meu marido, a caminho do trabalho, me deixava na maternidade. Chegava por volta das 8 horas e só de saber que estava no mesmo espaço físico do meu filho, sentia um conforto. Ia diretamente para a sala de ordenha (nome que a princípio achava não fazer juz ao nosso esforço, mas que com o tempo passei a aceitar de uma forma muito divertida). Tirava o leite para a mamada das 9 horas e ficava, inquieta, esperando a hora de poder entrar na UTI.
Esse, com certeza, era o momento mais difícil do dia. Apesar de sabermos que eles nos ligariam se alguma intercorrência mais grave ocorresse, saber que haviam se passado 12 horas desde a última notícia, era muito estressante.
Entrava na UTI desesperada por notícias. A espera na pia de entrada parecia não ter fim. Só conseguia relaxar quando via meu pequeno e aí todo os outros pensamentos da minha cabeça sumiam e só pensava em nós dois juntos.
Com o passar do tempo algumas coisas passaram a nos tranqüilizar e passamos a encarar com mais naturalidade todo esse processo, se é que isso pode ser chamado de natural. Começamos a conhecer a escala de técnicas, enfermeiras e médicos e a presença de certas profissionais nos davam a paz que tanto precisávamos.
Cada dia era um novo dia e uma nova batalha. Apesar do pouco peso e tamanho, Miguel desde pequeno já mostrava como tinha um grande temperamento. Não precisou ser entubado ao nascer, mas foi colocado no CPAP. Desde o seu primeiro dia de vida travou uma batalha com o aparelho e, apesar de perceber que precisava dele, não se dava por vencido.
Quando me aproximava da sala 2, sempre era informada pela fisioterapeuta de plantão que o Miguel estava dando trabalho em manter o CPAP no nariz, até o dia em que ele descobriu como manter o aparelho próximo de suas narinas o suficiente para que sua saturação não se alterasse e ninguém percebesse. Para qualquer mãe, chegar e ver o aparelho fora do nariz, poderia causar uma angústia. Mas depois da primeira semana, começei a ter muito orgulho desta pequena traquinagem do meu filho. Hoje posso dizer que até o encorajava.
Miguel desde o princípio mostrou ter temperamento próprio. Tudo que era esperado por nós e pelos médicos precisou ser reavaliado. Miguel tinha seu próprio tempo. As coisas eram do seu jeito. Não adiantava querer apressar o curso do rio.
Dia a dia ele nos mostrava que precisávamos ter paciência, que ele era diferente. Uma diferença que em muitos momentos nos deixaram um pouco frustrados. Víamos bebês menores em peso, tamanho e idade gestacional reagirem, mudarem de sala... e nós íamos ficando.
Um dia muito marcante pra nós foi o primeiro canguru. Como não podia ser diferente, a primeira saída do nosso filho do seu ninho protetor foi feita pela sua grande madrinha de UTI Tia Rê. A sensação de tê-lo pela primeira vez em meus braços foi mágica. Incrível como aquele pequeno ser se encaixou tão perfeitamento em mim. Assim como uma tampa feita para sua caixa, nós havíamos sido feitos um para o outro.
Mas nem todos os dias foram flores. Na verdade, a maior parte dos dias não foi assim. A impotência frente aquela situação era gigantesca. Apesar de tentar manter o otimismo em alta, não era fácil encarar a realidade. Além disso, não era fácil pra mim não me envolver com as outras mães e com as outras histórias. E, assim como a minha, todas tinham momentos angustiantes.
Os dias foram passando e uma nova vida foi se estabelecendo. Entramos na rotina e parecia que tudo aquilo que estávamos vivendo já fazia parte de nós a muito mais tempo. Já não nos questionávamos mais. Fazíamos todos os dias exatamente a mesma coisa. Para nós, nada mais normal do que passar o dia com o nosso filho recém nascido. E já que ele estava na maternidade, nós também estávamos lá.
Passava todos os dias das 8 às 21 horas na maternidade. Nada mais fazia sentido. Tentei, e juro que tentei, continuar com algumas atividades da minha vida, mas não consegui.
Me sentia como se estivesse sido atropelada por um caminhão de emoções. Conheci verdadeiramente o sentido da expressão 'bipolar'. Mudava de humor tão facilmente que já nem sabia mais o que despertava cada reação.
A mudança de sala era comemorada com muita alegria e cada mesersário (aniversário de mês de vida) era festejado com bolo para a equipe e mães. Tudo corria bem, mas me sentia mãe pela metade. Aos dois meses de vida ainda não tinha trocado nenhuma fralda do meu filho, não havia dado nenhum banho e isso era muito estranho. Eu tinha um filho, mas não era responsável pelos cuidados dele. Além disso, que mãe de recém nascido dorme a noite toda?
Fernanda, que bom um novo post!!! Ótimo como sempre!!! Mas o meu coment é mais para dizer que o MIguel é UMA COISA DE LINDOOOOOO, meu Deus, que criança linda!!!! Adorei "conhecer" vcs, que bom que vc colocou uma fotinho! beijos
ResponderExcluirFê.. adoro seus posts.. acabo revivendo os dias de Gustavo na UTI, me identifico completamente com os sentimentos (jamais vou esquecer da sensação de pegar meu filho no colo pela primeira vez.. com quase uma semana de vida). E lembro tanto da "briga" do Mig com o cpap.. rsrsrs.. dê um beijo carinhoso nele por mim, pelo Keiti e pelo Gu.. bjs para vcs!
ResponderExcluirNossa repassei os meus dias na uti tbem, vc sabe que na época em que os meninos estavam na UTI eu lia muito, e lembro de ter lido( só não lembro aonde), que o trauma de uma mãe que tem um filho UTI é o mesmo de uma pessoa que voltou da guerra, então entendo totalmente sua demora em escrever sobre a UTI.
ResponderExcluirBjos
Ana
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