quarta-feira, 13 de abril de 2011

Por quê???

Tenho acompanhado o noticiário sobre a tragédia no Rio de Janeiro e percebo que todos os canais tem tentado, de várias maneiras, encontrar respostas que expliquem ou justifiquem o ocorrido.
Fiquei pensando como no nosso caso não foi diferente. Por quê será que o ser humano tem essa necessidade de encontrar os por quês diante de situações que não controlamos?
Quando soubemos do diagnóstico nossa cabeça entrou em parafuso. Junto a isso, quando contávamos pra algumas pessoas, percebíamos o olhar diferente, querendo saber quem era o "culpado" por tal acontecimento. Muitos amigos ficavam envergonhados, mas no final chegavam a mesma pergunta: por quê?
Muitas perguntas eram feitas: tem algum caso na família? quantos anos você tem? você tomou algum remédio na gravidez? Incrível como a necessidade de resposta era algo que tomava conta, não só dos nossos pensamentos, como também de algumas pessoas que nos cercavam.
Eu mesma não conseguia entender. Estou longe de ser perfeita. Aliás, pra quem me conhece bem sabe que passei longe da fila da perfeição. Mas sempre acreditei que estava contribuindo pra humanidade e que seria recompensada por isso. Afinal sempre estive disponível pros meus amigos e familiares, dou aulas de catequese, sou ministra da Eucaristia, faço trabalhos voluntários... não está bom? Então por quê comigo? 
Posso dizer que todos os dias eu e o meu marido tentávamos, sem sucesso, encontrar essa resposta.
Como nos dito por um homem muito sábio, não precisávamos entender o que estava acontecendo. Precisávamos aceitar. Aceitar que o Miguel estava a caminho, que ele havia nos escolhido - e, com certeza, nós a ele - e que ele mudaria a forma como viveríamos a nossa vida.
Por ser uma criança especial, o pré natal do Miguel exigiu alguns cuidados especiais. Algumas idas a mais ao médico e o atendimento por especialistas: geneticista, cardiologista... A cada consulta que passava parecia que além de mais felizes com o desenvolvimento do Miguel, ficávamos mais confusos. Apesar do cariótipo confirmar o diagnóstico, todos os outros sinais que confirmavam a síndrome não estavam presentes: Miguel tinha o osso nasal normal pra idade gestacional, era um bebê grande, não apresentava cardiopatia (pelo menos aquelas mais graves e passíveis de serem diagnosticadas intra útero).
Posso dizer que esses sinais acabavam alimentando uma esperança, a de o resultado do exame estar errado. Junto a isso, muitas histórias começavam a ser contadas. Sempre tínhamos um amigo que conhecia um caso em que o resultado dava positivo, mas a criança nascia normal. Acho que essa era a forma de nós e dos que nos cercavam tentar aliviar a situação, afinal ela podia não ser totalmente verdadeira.
Enquanto isso o tempo passava e cada dia o nascimento do Miguel ficava mais próximo. A Síndrome sempre tomava mais atenção do que o necessário. Na preparação do enxoval alguns cuidados começaram a ser tomados, todos voltados para as necessidades especiais de nosso pequeno bebê. Tudo parecia caminhar como esperado.
Dia 02 de agosto fizemos o exame do 7o. mês. Chegamos eufóricos ao consultório, sabendo que aquele dia seria mais um dia mágico em que tentaríamos ver o rostinho do Miguel, que sempre nos surpreendia durante os exames virando de costas (já demonstrando que as coisas aconteciam conforme a vontade dele e não nossa). 
O que ouvimos naquele dia não estava nos nossos planos. Minha placenta havia amadurecido mais do que o normal e o fluxo de oxigênio do cordão umbilical estava reduzido podendo prejudicar o desenvolvimento do bebê. Nosso geneticista, sempre cauteloso, pediu que voltássemos no dia seguinte para uma nova avaliação.
Voltei pra casa aos prantos. Lidar com a idéia de nosso bebê ter uma síndrome era difícil, mas estávamos trabalhando para aceitar esta questão. Mas nada indicava que ele seria prematuro. 
No dia seguinte refizemos o exame e o diagnóstico temido foi confirmado. As coisas não estavam bem e precisaríamos redobrar os cuidados. Fui internada imediatamente, com a intenção de monitorar diariamente o bebê pra evitar possíveis danos. 
Fomos informados de que permaneceríamos pelo menos um mês no hospital, tentando postergar ao máximo o dia do nascimento. Porém, quatro dias depois, dia 07 de agosto às 19:51 nascia nosso maior tesouro. Indo contra todas as expectativas Miguel já estava entre nós. Nesse momento a resposta de nossa maior pergunta (Por quê?) parecia desnecessária. Não vou ser mentirosa e dizer que nunca mais pensamos nisso, mas nesse momento essa pergunta foi transformada e passamos a pensar em pra quê?

4 comentários:

  1. Olá Fernanda, cheguei ao seu blog por indicação da Michelle Conegero. Amei cada palavra que você escreveu e estou extremamente emocionada. Sou mãe do Matheus de 4 anos, e sei como é a expectativa da chegada do primeiro filho. Vou pedir sempre a Deus, em minhas orações, que abençoe muito sua família, pois todos vocês são muito especiais. E tenha certeza de que se Deus colocou o Miguel em suas vidas e vocês na vida dele é porque vocês se completam e estão prontos para viver e conviver com estas "diferenças", simplesmente porque vocês AMAM. O amor não distancia, não tem preconceito, o amor aproxima, une as diferenças, afinal a gente não escolhe quem a gente ama, simplesmente AMA, sem questionar o porquê.
    Parabéns pela sua história e conte-nos sempre mais.

    Um grande abraço,
    Ana

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  2. Fê.. sou leitora assídua do blog. Estou amando saber mais de vocês, da história e, claro, do Mig. Acompanhamos de perto este danado na UTI, rebelde, espertão e lindo. Tão bom ver que está cada dia mais gostoso, sorridente e cercado pelo amor de vocês, pais maravilhosos. Beijos da Vi, Keiti e Gu.

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  3. Amo estar aqui lendo essa historia linda... Você escreve super bem!

    Eu também me pergunto sempre "o porque" das coisas, mas Deus sabe de todas as coisas né.

    Hoje recebi uma noticia que fiz mil "porques", mas me conformei.

    Beijos e estarei sempre que poder aqui!

    Beijos

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  4. O seu "para que" já começou. Nesse seu blog vc inicia os rascunhos do que será um belo livro.
    Conheço uma senhorinha (Nancy Puhlmann di Girolamo) de mais ou menos oitenta anos que foi mãe como vc e hoje escreve livros e fundou uma instituição http://www.ibnossolar.org.br/pag_index.php
    Um beijo

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